A Pesquisa como Prática Relacional: Colaboração, Dialogia e Reflexividade na Produção do Conhecimento

5945125-5
Pós-Graduação

Origem:

Psicologia
Psicologia em Saúde e Desenvolvimento

Vigência

07/12/2023
07/12/2023
2023-11-23 00:00:00

Carga Horária

4 horas
0 horas
6 horas
60 horas
4
6 semanas

Responsável:

Carla Guanaes Lorenzi
07/12/2023
07/12/2023
07/12/2023
23/11/2023



Partindo das contribuições das propostas construcionistas sociais ou pós-modernas à Psicologia, esta disciplina visa discutir a pesquisa como prática relacional, apresentando as noções de colaboração, dialogia e reflexividade como centrais ao processo de produção do conhecimento.
São objetivos específicos:
a) Apresentar o contexto histórico de emergência da epistemologia construcionista social e de uma consciência relacional sobre o processo de produção do conhecimento
b) Apresentar as características da pesquisa relacional, enfatizando a natureza do pesquisar com pessoas e em contextos situados.
c) Discutir posicionamentos teórico-metodológicos por parte do pesquisador, explorando as noções de dialogia, colaboração e reflexividade.
d) Oferecer exemplos de desenhos metodológicos, a partir de uma orientação relacional.


As propostas construcionistas sociais ou pós-modernas emergiram no contexto da ciência psicológica no início da década de 80. Dentre suas características, destaca-se à centralidade da linguagem na configuração das realidades sociais, a sensibilidade à natureza situada das descrições de mundo; e o foco no processo relacional na compreensão da produção de sentido – isto é, na ação-conjunta ou processo de coordenação da ação humana. Conforme assinalam autores do campo, o desenvolvimento dessas ideias passou por duas fases principais: a primeira delas ficou conhecida como fase de crítica ou desconstrução, sendo marcada sobretudo por movimentos de problematização das propostas empiricistas e realistas de compreensão do fenômeno psicológico, e de visões mais essencialistas sobre o fenômeno psicológico; e a segunda, conhecida como fase de reconstrução ou inventividade/criatividade, com a proposição de novos modos de compreensão das realidades sociais e práticas, incluindo as práticas de pesquisa. Essa segunda fase nos interessa de modo especial, pois nela reside a proposição de novos desenhos para a pesquisa e prática em psicologia.
Nesta disciplina, partiremos da retomada desse contexto histórico para compreendermos como a emergência de uma consciência relacional acerca do processo de conhecimento nos leva até à definição de pesquisa como pratica social e relacional. Discutiremos como as noções de colaboração, dialogia e reflexividade podem se fazer presentes no processo de pesquisa, nos movendo de uma lógica de pesquisar sobre, para pesquisar com [as pessoas], em contextos situados. A relação do pesquisador com os participantes será explorada, refletindo sobre algumas implicações e possíveis desafios de se adotar a ética relacional e dialógica como orientadores no cotidiano da pesquisa. Buscaremos, por fim, ilustrar como as noções acima descritas estão presentes em algumas estratégias de produção de conhecimento.
Por meio do percurso acima descrito, a disciplina busca contribuir com o fortalecimento da pesquisa construcionista relacional no contexto brasileiro, apresentando ao estudante de pós-graduação as principais contribuições dessa abordagem para a pesquisa e produção de conhecimento em psicologia.


1. Fundamentos teóricos e epistemológicos:
• a emergência de uma consciência relacional acerca do processo de produção de conhecimento;
• O discurso construcionista social: o poder constitutivo da linguagem, a construção relacional do significado e o posicionamento histórico-cultural das descrições de realidade.

2. Posicionamentos metodológicos na produção do conhecimento:
• A noção de campo-tema
• A Reflexividade na pesquisa qualitativa
• Dialogia e colaboração na relação entre pesquisador e participante.
• Ética dialógica e responsabilidade relacional.

3. Modos de produção de conhecimento
• Pesquisa como prática cotidiana e o terapeuta como produtor de conhecimentos.
• Entrevista como prática discursiva e dialógica
• Pesquisa narrativa
• Pesquisa ação relacional


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Vide Campo Observação


Forma de avaliação:
A avaliação dos estudantes nesta disciplina será desenvolvida considerando as seguintes formas de avaliação:
a) Desenvolvimento de estudos dirigidos sobre os tópicos estudados (50%).
b) Desenvolvimento de trabalho escrito final (50%).

OBSERVAÇÕES:
A nota final será calculada pela média aritmética das notas das duas formas de avaliação: desenvolvimento de estudos dirigidos sobre os tópicos estudados (50%) e desenvolvimento de trabalho escrito final (50%). Essa nota final seguirá as seguintes equivalências:

O conceito A equivale a nota final de 9,0 a 10,0
O conceito B equivale a nota final de 7,0 a 8,9
O conceito C equivale a nota final de 5,0 a 6,9
O conceito R equivale a nota final de 0 a 4,9

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